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07 Novembro
Artigo
Medicina veterinária e os riscos da mercantilização
Autor: Andrei Guedes
Diante do tamanho populacional de animais de estimação, calculado em mais de 130 milhões, e considerando ainda, a crescente preocupação dos tutores para com seus animais, a medicina veterinária vem se tornando uma área cada vez mais ampla no país

Segundo dados de 2018 do Conselho Federal de Medicina Veterinária, o Brasil é o país do mundo com maior número de médicos veterinários, totalizando 124.253 profissionais. Diante do tamanho populacional de animais de estimação, calculado em mais de 130 milhões, e considerando ainda, a crescente preocupação dos tutores para com seus animais, a medicina veterinária vem se tornando uma área cada vez mais ampla no país.

Por outro lado, o aumento no número de profissionais formados a cada ano, 8.750 mil só no ano de 2016, é algo que requer atenção especial. Pois com mais de 340 cursos de medicina veterinária regulamentados e em atividade no Brasil, faz-se necessário um abalizamento dos critérios de formação, tanto por parte das instituições de ensino quanto por parte dos alunos. Estes últimos devem estar atentos a cada oportunidade, e buscar o fortalecimento do seu processo de capacitação como uma forma de consolidar a sua bagagem profissional.

A atuação profissional dos médicos veterinários recém-formados se concentra, normalmente, em atividades de clínica e cirurgia, por ser algo que historicamente compõe um traço marcante na profissão. Isso não exclui o percentual de médicos veterinários atuando noutras possibilidades que a profissão faculta, haja vista a imensidão de grandes áreas e subáreas existentes e reconhecidas.

Obviamente que perpassando pelo cunho principal, e maior motivador da existência do médico veterinário, que é a identificação, diagnóstico, tratamento, controle e prevenção de enfermidades animais, o objetivo final da atuação é colher os frutos do trabalho diário em forma de lucro. Todavia, um questionamento se faz necessário: quais os critérios, valores morais, éticos e sociais que requer preservação e consideração, ao se vislumbrar o lucro decorrente da atuação na área da saúde animal?

Nessa ótica, é indiscutível que o trabalho do médico veterinário não pode ter uma caracterização comercial como base. Ou seja, por mais que o profissional esteja inserido numa empresa (clínica, consultório, laboratório, etc.), a natureza básica das suas atividades deve estar calcada nos princípios éticos da profissão, de modo indissociável daquilo que aprendemos acerca dos valores morais e humanísticos atinentes à vida e saúde, seja animal ou humana.

Nessa perspectiva, vale ressaltar que é crescente a quantidade de estabelecimentos veterinários, por vezes conjugados com vários segmentos (clínica, laboratório, pet-shop, banho e tosa, etc.) como forma de agregar o máximo possível de valor econômico, decorrente das suas atividades, originando verdadeiros complexos de saúde. Alguns desses passam automaticamente a visar, de forma prioritária, o lucro em detrimento às boas condutas éticas e de respeito aos pacientes e clientes, afinal de contas é muito como que o diplomado em medicina veterinária, se auto intitule empreendedor e, não raro, fugindo da sua profissão base, passa a atuar no segmento administrativo.

Esse “desvio de rota”, em boa parte das vezes, direciona os olhos do médico veterinário para o mercantilismo, criando em si um comportamento de competitividade. Algo perigoso por se apresentar em duas faces, pois tanto pode ajudar (estimulando a melhoria contínua e inovação) quanto pode prejudicar os indivíduos e as organizações, já que desperta o sentimento de medo de serem ultrapassados por seus concorrentes, gerando desconforto na esfera do relacionamento com aqueles que deveriam se ajudar, na consolidação de uma sociedade resistente, unida, e respeitada.

Em decorrência disso, não é incomum depararmo-nos com situações nas quais alguns profissionais manifestam opiniões críticas contra outros, o que quase sempre é feito na presença de clientes, e estes acabam por repercutir a situação de forma negativa e desenfreada.

Em condições como essas, o cliente visa tão somente o interesse em acessar os menores valores em produtos e serviços, muito embora tais aspectos não sejam sinônimos de qualidade. Já quando o profissional atua de modo anti-ético, uma tendência verificada é a de que ele está com as atenções voltadas a angariar cada vez mais clientes.

É válido ressaltar que, em sociedades mais avançadas cultural e economicamente, o mais comum no desempenho de atividades relacionadas à profissão é a formação de complexos de saúde constituídos por vários colegas médicos veterinários. Cada um desenvolvendo a sua habilidade e oferecendo o serviço na sua área de atuação, tudo isso como uma maneira de fortalecer os laços profissionais e afetivos, além de tornar a profissão cada vez mais consolidada, uniforme e com boa imagem e repercussão.

Com os rumos que a profissão vem tomando, tudo indica que nos próximos anos, o grande desafio será a união de profissionais em complexos de saúde, como forma de oferecer serviços completos, diversificados e concentrados.

Por: Andreey Teles – Médico Veterinário e Coordenador do Curso de Medicina Veterinária da Uninassau – João Pessoa

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