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13 Dezembro
LEITURA
Exigências proteicas para juvenis de camarões marinhos
Autor: Andrei Guedes
Confira a resenha escrita pelo professor Luiz Trevisan , do curso de veterinária

*Resenha de artigo publicado pelo autor no Periódico  BIOFAR - EUPB

Atualmente o camarão da espécie Litopenaeus vannamei, é o mais cultivado no Brasil, respondendo por mais de 95% da produção nacional. A escolha desta espécie para o cultivo foi devido principalmente, a sua fácil adaptação às condições climáticas do Nordeste Brasileiro, tecnologia bem desenvolvida, boa produtividade, grande aceitação no mercado internacional, como também maior adaptação em cativeiro (Siqueira et al., 1999; ABCC, 2004; Rodrigues, 2005).

O camarão L. vannamei apresenta características favoráveis ao cultivo como rusticidade e tolerância aos fatores ambientais, desenvolve rapidamente sob condições de cultivo, especialmente em baixas densidades de estocagem, ou sob presença marcante de alimentos naturais de origem animal. O L. vannamei tem se adaptado bem as dietas comerciais disponíveis no Brasil, sobretudo que a variabilidade no comportamento e habito alimentar dos camarões peneídeos em viveiros é ainda pouco compreendida. Nos cultivos semi-intensivos, as rações formuladas são utilizadas para aumentar a produção além dos níveis suportados pela produtividade natural do viveiro, que pode alcançar até 85% da dieta dos camarões (Nunes et al., 1997; Carvalho, 2004).

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento biológico foi realizado no NUPPA (Núcleo de Pesquisa e Processamento de Alimentos) / UFPB, situado no bairro de Mangabeira, João Pessoa, PB. Foram utilizados juvenis de camarões marinho da espécie Litopenaeus vannamei, provenientes de uma fazenda com baixa salinidade (1,5–2,0%) em São Miguel de Taipu-Paraíba. As amostras foram transportadas em sacos plásticos com 1/3 de água do próprio local de coleta com 2/3 de oxigênio. Os animais foram pesados individualmente em uma balança eletrônica e estocados com uma densidade de 5 camarões por aquário, o que representou 25 animais.m-2.

Os parâmetros físicos da água (temperatura e pH) foram monitorados 3 vezes por semana, enquanto os químicos (salinidade, amônia, nitrato, nitrito e oxigênio dissolvido) foram analisados semanalmente conforme metodologia descrita: A temperatura foi aferida com termômetro de mercúrio; O pH determinado com auxilio de um potenciômetro; Salinidade aferida com um refratômetro; amônia e nitrito utilizou-se o método colorimétrico descrito por Mackereth et al., 1978); Nitrato - determinado de acordo com Rodier (1975) e o oxigênio dissolvido – obtido por aparelho portátil (oxímetro), modelo Q-758p de marca Quimis®.

Para a formulação das rações foram utilizados os seguintes insumos: farinha de peixe, fécula de mandioca, farelo de soja, farinha de milho, óleo de peixe, Premix® (vitaminas e minerais), farinha de sangue e sabugo de milho.

As analises de composição centesimal das rações foram determinadas pelos métodos descritos pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2005): Teor de Umidade em estufa a 105ºC; cinzas em mufla a 550ºC; teor de fibra (método de Hennemberg); Proteína (método Micro Kjeldahl – fotor 6,25); teor de lipídeos – (método Soxhlet, processo gravimétrico); carboidratos - calculado por diferença e determinação da Energia Bruta (Kcal.Kg-1 ou Kcal.-1) segundo Maynard et al. (1984). Para determinação do teor de Fósforo utilizou-se o método colorimétrico e o cálcio realizado através da precipitação dos íons (Rangana, 1979); Para as analises estatísticas aplicou-se o teste ANOVA (Analysis of variance) segundo Montgomery (1984), considerando p < 5% e Duncan com (p < 5%) de acordo com Gomes (1981). Considerou-se o nível de probabilidade de erro (p) menor que 0,05 ou 5% para definir a significância em todos os testes, os quais foram realizados através do programa SPSS for Windows – 11.0 (SPSS. INC, 2001).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Balanceamento das rações

O balanceamento das rações é imprescindível para o desenvolvimento da carcinicultura, no entanto inúmeros estudos têm sido realizados, com o objetivo de adequar a utilização de insumos nas rações para camarões (Jorgensen & Bemvenuti, 2001).

A ração controle  utilizada  neste experimento apresentou valor  protéico de  42%, valor semelhante a R2, que variaram em relação aos outros componentes. Deve-se ressaltar que existem fatores que podem influenciar no crescimento do animal, como: digestibilidade da ração, palatibilidade, granulometria e a integridade da ração na água. Quantos aos insumos utilizados para confecção da ração controle incluíram: proteína animal de origem marinha, cereais moídos, combinação de grãos oleaginosos, subprodutos agrícolas e industriais, óleo de peixe, premix vitamínico e mineral e atrativos químicos, os quais apresentavam no rótulo apenas a composição centesimal geral dos nutrientes, não especificando o valor individual de cada insumo.

Valesco et al., (2000) relata que a proteína é o macronutriente mais caro na alimentação de camarões marinhos, desta forma é importante os níveis protéicos adequados, visando minimizar os custos da alimentação, o que estimula a presente pesquisa, uma ração de boa qualidade e baixo custo.

No presente estudo os teores de proteínas variaram para cada tipo de ração: R1(39%), R2(42%), R3(45%), R4(48%) e R5(51). Os níveis de energia nos cinco tratamentos foram de 3.640Kcal.Kg-1 ração, portanto, isocalóricas. Rocha & Rodrigues (2003), relatam que os níveis de energia apresentaram valores entre 3.400 a 3.840Kcal.Kg-1 ração, sendo estes favoráveis no desempenho do animal.

Análise da qualidade da água.

Os valores médios de pH variaram de 7,4 a 8,0. Porém, só houve diferença significativa, pelos testes ANOVA e Duncan a nível de 5% de probabilidade entre os tratamentos R1 e R4; R1 e R5, ressaltando que estes resultados estão dentro da faixa ótima de pH, que de acordo com Lopes et al. (2001) variam de 6,5 a 9,0, assegurando uma boa produção.

Os dados encontrados nesta pesquisa são concordantes com os de Gadelha, (2005), que relatou variação no pH entre 7,0 a 8,4, quando cultivado o L. vannamei. Santos et al., (2000) relatam valores de pH  entre 7,9 a 8,7 na água de cultivo de L. vannamei, expostos a baixa salinidade, em condições de laboratório.

As temperaturas variaram de 26,4ºC e 28,0ºC. Houveram variações significativas pelos testes em R1, R2 e R3 com relação aos tratamentos R4, R5 e R6. Ostrensky & Pilchowsky (2002), obtiveram em seus trabalhos uma variação de temperatura entre 19,5 e 24,3ºC, cultivando P. paulensis e P.schimitti em diferentes salinidades, não interferindo no desenvolvimento do animal.

A salinidade da água dos aquários de cultivo permaneceu constante, com valores de 1%o. O camarão L.vannamei apresentou neste experimento boa tolerância á baixa salinidade da água, contudo, Candido et al. (2005), afirma que condições de baixa salinidade podem contribuir diretamente no desempenho do crescimento de camarões desta espécie.

Ostrensky & Pilchowsky (2002), afirmam que o camarão branco L. vannamei corresponde ás espécies que apresentam melhores tolerâncias a baixas salinidades. De acordo com Hernandéz (2000), a salinidade está relacionada com o teor de sais dissolvidos na água do mar.

Neste experimento os valores médios de oxigênio dissolvido mantiveram-se fixos em 6,60 mg.L-1, o que não possibilitou a ocorrência de estresse pelos animais. Pois, a aeração mecânica utilizada (soprador) é uma ferramenta de cultivo que possibilita incrementar de forma eficiente às produtividades na engorda de camarões marinhos.

Os níveis de amônia durante o período de cultivo variaram entre 0,024 a 0,045mg.L-1, estando os mesmos na faixa ideal de crescimento para o camarão cultivado (0,1 – 1,0mg.L-1), descrito por Hernandéz (2000) e Assis (2003), ou seja, encontram-se bastante abaixo do valor máximo permitido.

Estatisticamente houve diferenças significativas entre todos os pares de tratamentos das rações, com exceção da R4 com a R5, pois os valores encontrados foram 0,040 e 0,041mg.L-1, respectivamente. Este parâmetro manteve controlado devido a renovação da água e oxigenação dos aquários.

Os resultados obtidos quanto aos percentuais de nitrito e nitrato variaram entre 0,021 a 0,087 e 0,017 a 0,070mg.L-1, respectivamente. Estes resultados se mantiveram controlados, onde o nível de nitrito deve ser menor que 1,0mg.L-1 e o nível de nitrato entre 0,4 a 0,8mg.L-1 (Clifford,1994; El- Shafai et al., 2004).

Houve diferença significativa do percentual de nitrito e nitrato na água para todos os pares de rações, com exceção dos tratamentos R4 e R5 referente ao nitrato (0,046mg.L-1) para ambos os tratamentos. Nunes (2000); Russo & Thurston (1991) relatam que o nitrito (NO2¯) e nitrato (NO3¯) são formas de nitrogênio presentes nos ambientes de cultivo, resultando da transformação da amônia na presença de oxigênio.

Taxa de crescimento, biomassa e sobrevivência

A análise dos dados demonstra que as rações R2, R1, Ração controle e R3, quando administradas apresentaram as maiores taxas de crescimento dos camarões, estes dados são devido aos teores de proteínas inseridos nestas rações variando entre 39 - 45% de proteína bruta o que juntamente associado ao teor de carboidrato acima de 20%, demonstrou melhor eficácia no desenvolvimento dos camarões durante o tempo de cultivo.

Carneiro et al. (1999), Siqueira et al. (1999) e Santos et al. (2002), trabalhando  com camarões L. vannamei alimentados com diferentes rações obtiveram resultados entre 100,58% a 168,84% para taxa de crescimento em peso. Cezar et al. (2000) ao alimentarem com diferentes rações o L. vannamei e o P. subtilis, obtiveram um incremento em peso de 23,38% e 92,29%, respectivamente.

Com relação a sobrevivência, obteve-se nesta pesquisa 100%, 100%, 92%, 92%, 100% e 92% para os tratamentos R1, R2 ,R3, R4, R5 e Ração controle, repectivamente. Santos et al. (2002), ao cultivarem camarões marinhos L. vannamei alimentados com dietas naturais obtiveram sobrevivência que variaram de 80% a 100%. Cezar et al. (2000) relataram uma taxa de sobrevivência na faixa de 30 a 80% em diferentes salinidades.

De acordo com a classificação de Nunes & Martins (2002), os resultados de sobrevivência podem ser considerados excepcionais, em decorrência de terem sido superiores a 90%. Almeida et al. (1999), encontraram taxa de sobrevivência final de 67,5, 82,5 e 70% para as densidades de 10, 20 e 30 indivíduos por metro quadrado de Litopenaeus vannamei, respectivamente.

Pode-se verificar nos gráficos, que quanto maior a inclinação da reta maior a rapidez no ganho de peso e comprimento. Dessa forma a R2 apresentou o melhor crescimento em peso e comprimento, pois a mesma obteve um ótimo desempenho linear durante o decorrer do experimento, o que demonstrou o coeficiente de correlação próximo a 1, em virtude de ganhos de pesos e comprimentos.

CONCLUSOES

Os parâmetros físico-químicos não elevaram acima dos valores permitidos, o que não interferiu no crescimento dos animais, ressaltando que os nutrientes: amônia, nitrito e nitrato, elevaram-se em função do aumento do teor de proteínas nas rações.

A taxa de crescimento em peso foi maior na ração R2 (290%), podendo a mesma ser utilizada para a engorda de camarões com exigências nutricionais protéicas de 42% como forma de reduzir o preço da mesma, que chega em alguns casos a representar 60% dos custos de produção. O incremento diário da biomassa seguiu a seguinte ordem de crescimento R2 > R1 > R6 > R3 > R4 > R5

As rações R2, R1 e R5 apresentaram as maiores taxas de sobrevivência (100%).

Para o monitoramento do manejo alimentar e nutricional, é necessário conhecer as exigências nutricionais da espécie visando colaborar com a redução dos custos da alimentação formulada, contribuindo na performance de crescimento dos animais.

Por: Dr. Luiz Trevisan - Médico veterinário - Docente do curso de Medicina veterinária da Uninassau - João Pessoa.

 

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