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05 Dezembro
LEITURA
Efeito do extrato de Neem sobre mosquito Aedes aegypti
Autor: Beto Coral
Confira o estudo

INTRODUÇÃO

O dengue é considerado a mais importante arbovirose que afeta o homem em termos de morbidade e mortalidade. Acredita-se que, anualmente, mais de 100 milhões de indivíduos, habitantes de 61 países tropicais de todo o mundo, se infectem com este vírus, e essas epidemias vêm ocorrendo em quase todo o Brasil, desde 1986, incluindo casos de dengue hemorrágico (BARRETO, 2008). Os vírus do dengue são arbovírus, transmitidos por mosquitos do gênero Aedes, e pertencem à família do Flaviviridae. A origem do nome dengue, segundo Vambery, citado por Siler em 1926, seria árabe arcaica, significando fraqueza. A palavra descreve sintomas da doença ou comportamento praticado em virtude dela.

O Aedes aegypti pertence à família Culicidae, a qual apresenta duas fases ecológicas interdependentes: a aquática, que inclui três etapas de desenvolvimento – ovo, larva e pupa; e a terrestre, que corresponde ao mosquito adulto (DENGUE, 2007). A duração do ciclo de vida, em condições favoráveis, é de aproximadamente 10 dias, a partir da oviposição até a idade adulta. Diversos fatores influem na duração desse período, entre eles a temperatura e a oferta de alimentos (HONÓRIO & OLIVEIRA, 2001). O Aede aegypti, é o principal transmissor da febre amarela urbana e do dengue em todo o mundo. É um aclicídeo de origem africana, levado para as Américas depois do descobrimento.

O Nordeste brasileiro possui uma flora nativa e exótica vasta. Estudos etnobotânicos recentes têm mostrado muitas plantas com propriedades terapêuticas de uso rotineiro (ALBUQUERQUE, 2001). Este fato tem contribuído no conhecimento e na preservação de nossa flora. No entanto, à aplicação de métodos cientificamente controlados são necessários na investigação do potencial fitoterápico destas plantas visando um aproveitamento racional. O neem foi introduzido no Brasil em 1993 na cidade de Goiânia-GO pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA. Pertencente à família Meliaceae, como a santa-bárbara, ou cinamomo, o cedro, o mogno, etc., o neem é originário do Sudeste da Ásia e é cultivado em todos os países da África, na Austrália e América Latina (MARTINEZ, 2006).

Originária de clima tropical, a planta se desenvolve bem em temperaturas acima de 20oC, em solos bem drenados, não ácidos e altitudes abaixo de 700 m. Tem diversas aplicações, em especial como anti-séptico, curativo, vermífugo; é colocado em sabões medicinais, cremes, pastas dentais e o seu uso como inseticida se tornou bem conhecido nos últimos 30 anos, quando seu principal composto, a azadiractina, foi isolado (MARTINEZ, 2006). Os inseticidas naturais de neem são biodegradáveis, portanto não deixam resíduos tóxicos nem contaminam o ambiente. Estudos recentes comprovam o efeito das substâncias existentes no neem (Azadirachta indica), sobre insetos, pragas que habitam em áreas urbanas, como exemplo da Lepidoptera extremamente sensível as concentrações de 1 a 50 ppm; Heteroptera, Homoptera e Coleoptera sensível a partir de 100 á 600 ppm; Hymenoptera de 100 á 500 ppm; e Orthoptera de 0.001 á 1000 ppm (MORDE & MISBET, 2000). Mostrando-se até certo ponto eficiente, como por exemplo a repelência em mosquitos (evitar picadas) e a eliminação de piolhos e pulgas ( de seus hospedeiros); e das larvas de culicidae (em seus criadouros). No entanto o objetivo deste trabalho foi estudar a atividade biológica do extrato alcoólico de Azadiractha indica sobre ovos e larvas do mosquito Aedes aegypti.

MATERIAL E MÉTODOS

Colheita de folhas de neem (Azadirachta indica)

As folhas de neem foram adquiridas de plantio comercial em fazendas comerciais do município de São José de Espinharas sob a supervisão do engenheiro florestal professor Lúcio Valério Coutinho (DEF/CSTR/UFCG). Após a colheita foram postas para secagem em estufa de ventilação forçada a ± 65° C e em seguida maceradas e acondicionadas em reservatórios de vidro até seu uso.

Obtenção do extrato de neem e determinação de sua concentração

As amostras de folhas de neem foram trituradas, manualmente, macerada e homogeneizada. Será determinada a matéria seca segundo o método descrito por Silva (1990). Uma fração de 100 g do material fresco e macerado, foi colocado em um cartucho de papel de filtro; previamente tarado, costurado e submetida a uma extração com álcool etílico puro e com acetona num sistema Soxhlet. O extrato obtido foi concentrado por evaporação, a uma temperatura de 45º (± 5) C, através de um Evaporador Rotativo MA 120.

Em seguida, o extrato Bruto concentrado foi levado a uma estufa de ventilação forçada à 55 ○C, por 24 horas, filtrado em cadinho de vidro sintetizado, de porosidade média, e acondicionado em recipientes previamente esterilizados, em capela de fluxo laminar. O extrato bruto filtrado será estocado em ambiente a baixa temperatura (±4ºC) até seu uso. Destas amostras foram determinadas às respectivas densidades e a concentração final do resíduo de extrato bruto de cada amostra.

Aquisição das amostras do Aedes aegypti

Ovos de Aedes aegypti foram obtidos em focos naturais da cidade de João Pessoa-PB por agentes da Fundação Nacional de Saúde - FUNASA. Foram mantidos até completarem seu ciclo biológico (ovo, larva, pulpa e adultos). Os aquários foram protegidos com caixas teladas durante todo o período experimental experimento. O ciclo biológico foi registrado para que seja confrontado com relatos feitos do ciclo do mosquito em outros estados.

Avaliação da atividade biológica do extrato de neem sobre ovos de Aedes aegypti

Os testes in vivo usando ovos do mosquito foram performados após a identificação da integridade dos ovos. Realizado-se dois tratamentos; o primeiro homogenizando-se alíquotas do extrato de Neem a água nas bandejas 20x40 dose única, e o segundo pulverizando diretamente os ovos na superfície das palhetas. Em seguida, foram estimados o quantitativo de ovos, eclosões e de adultos formados a partir do início dos tratamentos. Foram utilizados no grupo exposto 450 ml de água para 50 ml do extrato de neem, e 100% na pulverização, já no grupo controle usou-se apenas água destilada.

Avaliação da atividade biológica do extrato de neem sobre larvas de Aedes aegypti

Os testes in vivo para avalia a ação do extrato bruto de neem sobre lavas do mosquito, foi performado após identificação da eclosão de ovos do mosquito nas bandejas e contagem da população das larvas por 100 ml de água coletada. Estas larvas foram separadas com o auxilio de uma pipeta onde serão selecionadas apenas aquelas que se encontrar no 3º e início do 4º estágio, sendo separados em copos descartáveis em grupos de vinte. Alíquotas do extrato de Neem foram devidamente homogeneizadas a água nos copos, em doses diferentes e observado durante todo o ciclo larval do mosquito. Ao encerrar o ciclo biológico do mosquito, contou-se a população viva e morta. A temperatura  permaneceu no intervalo de no mínimo vinte graus e máxima de 30 graus. Apos preparados os copos, coloca-se 1 ml de álcool nos quatro copos de controle, agitando-o com bastão agitador por 30 segundos. Determinação da susceptibilidade ou resistência de larvas aos inseticidas segundo metodologia padronizada pela OMS.

ANÁLISE DOS DADOS : RESULTADOS 

Efeito Ovicida

Foi observado retardo no desenvolvimento em relação ao grupo controle o número de eclosão, após um período de exposição de 48 horas. Ocorrendo a pupação após um período de 240 horas, o que corresponde a 10° dia após o início da exposição. No 12º dia após o início da exposição já se observou à presença de adultos com baixo desenvolvimento em relação ao grupo controle, que no 5º dia após a exposição, todos já haviam se tornado adultos, ocorrendo este retardo também na pulverização (Tab.1 e 2). Em estudos semelhante utilizando extrato de Neem, mostram que este apresenta eficácia no que se refere a controle de insetos, e que atualmente, são extraídos e comercializados compostos químicos ativos sobre mais de 200 espécies de insetos, incluindo alguns moluscos (NDUMU, 1999 apud VIEGAS JUNIOR, 2003). E

Segundo Vivan, 2005 a azadiractina além de possuir atividade fagoinibidora atua interferindo no funcionamento das glândulas endócrinas que controlam a metamorfose em insetos, impedindo o desenvolvimento na fase larval. O efeito inibidor de crescimento ocorre em doses de microgramas e é devido à interferência na regulação neuroendócrina de hormônios nas larvas, atuando principalmente sobre os túbulos de Malpigue e no corpus cardiacum do inseto (VIEGAS JUNIOR, 2003). Nos corpus cardiacum, as azadiractinas reduzem o “turnover” do material neurosecretório, fazendo com que os níveis de hormônios morfogenéticos dos insetos jovens e larvas sejam modificados e concomitantemente decresçam após a ingestão de azadiractina. Desta forma, a metamorfose dos insetos jovens é inibida assim como a reprodução dos adultos, sendo também conhecidos distúrbios ou inibição no desenvolvimento dos ovos (GODFREY, 1994 apud VIEGAS JUNIOR, 2003).

Efeito Larvicida

O extrato não mata instantaneamente as larvas porem as impede de continuarem se alimentando, interferindo no seu desenvolvimento demonstrando ser um regulador de crescimento de insetos, no entanto foi possível observar a eficácia do extrato líquido de neem em todos os tratamentos realizados em doses e concentrações diferentes, ocorrendo mortalidade no período de 24 á 48 horas. Em trabalhos anteriores realizados com o extrato de neem, mostram que as larvas tratadas podem se desenvolver normalmente até uma próxima muda, mais não conseguem completá-la (GROSSCURT, et al 1978; TUNAZ; UYGUN, 2004). Devido a presença da azadiractina as larvas se tornam-se incapazes de deixar a cutícula precedente morrendo durante ou logo após a ecdise (ESTRELA et.al 2005).

Vários estudos têm sido realizados nos últimos anos para elucidar as modificações no mecanismo de controle endócrino induzidas pela azadiractina, que provocam os efeitos observados na inibição de crescimento. Estes estudos permitiram identificar modificações nos níveis de hormônios morfogenéticos como a ecdisona (NDUMU, 1999 apud VIEGAS JUNIOR, 2003). Foi identificada uma acentuada similaridade estrutural entre a ecdisona e a azadiractina, entretanto não está claro se os efeitos sobre estas taxas hormonais são diretos ou indiretos (VIEGAS JUNIOR, 2003).   Algumas evidências indicam que a azadiractina pode bloquear a liberação de várias substâncias localizadas no sistema nervoso central, assim como a formação de quitina, um polissacarídeo que forma o exoesqueleto de insetos, além de impedir a comunicação sexual, causa esterilidade e diminui a mobilidade intestinal (VIVAN, 2005).

 

Por: Prof. Dr. Luiz Trevisan - médico veterinário e docente universitário - Uninassau João Pessoa.

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