Faculdade Maurício de Nassau UNINASSAU | Ser Educacional
23 Novembro
RACISMO
Monólogo: eu resisto
Por Gilma Benjoino

Eu resisto!

“Brazil livre: extincção da escravidão” é o que se lê na primeira página da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro na manhã do dia 14 de maio de 1888. Mas quem disse que a escravidão acabou com a instituição da Lei Imperial de n° 3.353, sancionada no dia anterior à publicação dessa notícia? Quem disse que as diferenças sócio-econômicas provocadas pela escravidão deixaram de existir pela simples assinatura da princesa?

Eu ainda ouço o estalar do chicote do feitor; ainda ouço os gemidos dos meus irmãos; ainda ouço as súplicas, lamentos...  ainda vejo dor. Perdoa-me, caro leitor, ouvinte, espectador! Estamos em pleno século XXl, e eu ainda estou falando de algo que deveras já ter sido encerrado, mas ainda sonho com a liberdade e a emancipação do meu povo.Ttalvez, por isso, eu seja considerado a pedrinha no sapato do Senhor da Casa Grande.

Vocês devem estar se perguntando: − Chicote? Feitor? Gemidos? Dor? Eu vos respondo com apenas uma palavra: − RACISMO.

O Racismo é o chicote invisível com o qual os feitores, desta época, atormentam o meu povo. O Racismo é a arma silenciosa que oprime, massacra, destrói e é responsável pela morte de um jovem negro a cada 23 minutos. O Racismo escraviza negros, vermelhos, amarelos e brancos, pobres ou ricos, da criança ao idoso.

−  Mas Racismo não existe. Isso é neura de preto.

− É, o racismo não existe mesmo, “é coisa de preto”, invenção da nossa cabeça ou talvez seja nossa luta por “privilégios”.

− Mas, se o racismo não existe, porque há poucos negros na TV? Se o racismo não existe, por que não há mais de nós em lugares de destaque? Se o racismo não existe, por que a maior parte dos produtos não são pensandos para nós?  Não somos todos iguais?

O discurso de igualdade tem invadido as nações, mas, infelizmente, eu não vejo igualdade, pelo contrário, tudo continua desigual. A minha cor ainda está vinculada a personificação do mal. O meu cabelo crespo ainda é considerado ruim. As mulheres do meu povo ainda são vistas como objetos sexuais, e os nossos homens continuam sendo vistos como os machos reprodutores, comparados a animais sem racionalidade alguma. Tudo isso me leva ao questionamento que não quer calar: quando que as pessoas vão perceber que estamos lidando com um problema letal? Ou melhor, até quando ficaremos inertes? Até quando permitiremos que o racismo tome tudo, inclusive nossa vontade de viver? Até quando?

Somos 54% da população do nosso país, não devemos nos contentar com as sobras e migalhas. Queremos mais negros que nos represente na TV, no Senado, nas Universidades, nas Empresas e em lugares de destaque. Pela lógica, consumimos a maior parte de produtos; desejamos, portanto, que os produtos que consumimos também sejam pensados para nós.

Agora me resta sonhar; sonhar com o dia em que de fato seremos livres e que a igualdade social seja de fato algo real e não fictícia. Esse é o meu sonho negro.  Como homem de pele retinta, resisto; pelo meu povo, resisto; por minhas raízes, resisto; pelos meus sonhos, eu resisto.

 

Kayque Borel

Aluno do IV semestre do curso de Pedagogia