Faculdade Maurício de Nassau UNINASSAU | Ser Educacional
24 Agosto
ARTIGO
A evolução da medicina veterinária e sua importância para os seres humanos
Autor: Andrei Guedes

Pode-se considerar que a medicina veterinária surgiu na mesma época em que o ser humano domesticou os primeiros animais, contudo, cronologicamente falando, esse marco data de cerca de 4000 a.C. através de registros encontrados no Papiro de Kahoun. É certo que em cada continente, o surgimento e evolução da “arte de curar animais” tem sua história, o que vem sendo aprimorado até os dias atuais, sempre na perspectiva de trazer benefícios não só para os animais (principal centro da atenção), mas também para os seres humanos. Contudo, considerando que naquela época a espécie equídea era uma das que tinha maior utilidade, a denominação do “profissional” que curava animais fora definida, na Grécia (século VI a.C.), com base nessa espécie, o qual passou a ser chamado de hipiatra (do grego hippos = horse + iatros = médico). Em Roma, a denominação desse “profissional” era Veterinarii e que, por sua vez, tem etimologia diferente (do latim Vetus = velho, idoso), o que surgiu com base na quantidade de equinos oriundos do exército romano e que ficavam velhos, necessitando de tratamento especial. Outras denominações descritas ao longo da história foram Medicus equarius (médico dos cavalos), Mulomedicus (médico das mulas) e Medicus iumentarius (médico do gado), mas não se consolidaram.

Historicamente e de maneira equivocada, a sociedade, de uma forma em geral, concebe o profissional médico veterinário como sendo alguém que cuida única e exclusivamente de animais em seus aspectos clínico e cirúrgico. Mas tudo isso tem uma justificativa, pois a criação e reconhecimento dessa profissão deram-se no âmbito histórico de como surgiu esse profissional, tendo, o seu campo de atuação, sido ampliado ao longo da evolução da sociedade, pelo aparecimento de necessidades (padrões de convivência coletiva, por exemplo) as quais, pelas suas características de execução e considerando o que as envolvia (produção animal, produção de alimentos de origem animal e derivados, higiene e inspeção de matadouros e frigoríficos, entre outras), assim como o perfil de formação e os componentes curriculares trabalhados, foram atribuídas como sendo de responsabilidade do médico veterinário.

Com a ampliação do leque de atribuições concernente ao profissional médico veterinário, algumas áreas ganharam destaque especial, as quais vêm crescendo de maneira bastante significativa, como é o caso da saúde pública (sendo a vigilância sanitária o primeiro campo de trabalho desta área por ser ocupado pelo médico veterinário), pela promoção da saúde, prevenção e controle de doenças das mais diversas etiologias, possíveis e passíveis de serem transmitidas aos humanos e vice-versa.

Aliado a isso, o aumento na circulação de pessoas entre os continentes, o surgimento de enfermidades com caráter antropozoonótico e que vêm ultrapassando as barreiras dos mais diversos países, comprometendo muitas vezes a integridade da saúde de uma nação, por exemplo, bem como sua produção de alimentos, tornando-os vulneráveis a contaminações e, consequentemente, colocando em jogo a economia de uma ou várias cadeias produtivas ou seus elos, exige a presença e atuação de um profissional que possua versatilidade suficiente para, que em articulação com os demais segmentos da área da saúde, possa agir com eficiência, eficácia, agilidade e destreza.

Políticas públicas de reconhecimento e divulgação da presença indispensável do médico veterinário nas mais diversas linhas de produção e inspeção de alimentos de origem animal, ovos, leite, pescado e mel, bem como na preparação de produtos com qualidade e seguros à saúde, incluindo aí a sua importante atuação em barreiras sanitárias de controle de trânsito animal seja ela em âmbito municipal, estadual ou internacional, são fundamentais no que diz respeito à informação que a sociedade precisa para compreender que, no dia-a-dia, cada alimento que se faz presente em nossa mesa, foi devidamente inspecionado por um profissional médico veterinário.

Nessa perspectiva, a abrangência de atuação desse profissional vai além do que se pensa ainda hoje em determinados segmentos da sociedade, tendo, inclusive, justificativas plausíveis para incluí-lo nas áreas de vigilância epidemiológica e ambiental. Todavia, para que isso seja devidamente consolidado e reconhecido, faz-se necessário a reformulação da práxis do ensino, bem como a re-estruturação das matrizes curriculares, na perspectiva de romper com a visão hospitalocêntrica do acadêmico em medicina veterinária, mostrando-lhes a amplitude de áreas de atuação, que inclusive encontram-se carentes desses profissionais, como uma forma de suprir, futuramente, essa demanda nos campos de trabalho, fortalecendo cada vez mais a sua presença nesses segmentos. A fragilidade no processo de formação e a ausência de políticas voltadas a esse aspecto contribuem para que campos de atuação específicos do médico veterinário acabem sendo aquinhoados por profissionais de outras áreas de formação e conhecimento.

Por: Andreey Teles  -  Médico Veterinário – Coordenador do curso de medicina veterinária – Uninassau João Pessoa

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