21
Novembro
Recife
No dia da consciência negra ainda é preciso falar de respeito
No dia da consciência negra que é comemorado em mais de 1.000 cidades brasileiras, a Sementes Comunicação desenvolve campanha em prol do respeito
Redação: Edla Sobrinho
Com o objetivo de despertar à sociedade na luta pela igualdade de direitos da população negra, a Sementes Comunicação, Agência Experimental da Uninassau, desenvolveu a Campanha “Seu racismo não me define”. A campanha lançada a partir do dia 20 desse mês no Facebook e Instagram da agência, conta com depoimentos dos estudantes da universidade sobre a importância do respeito e da identificação da pessoa negra dentro dos diferentes espaços.
O dia da consciência negra comemorado no Brasil no dia 20 de novembro marca também a morte de Zumbi dos Palmares em 1965, principal líder negro e último chefe do Quilombo dos Palmares que lutou contra a escravidão. É um dia de reafirmação e valorização da descendência afro-brasileira que só no Brasil representa 46,7% dos que se autodeclararam pardos e 8,2% que se autodeclaram negros segundo resultado da Pesquisa Nacional por Amostragem de domicílios divulgada pelo IBGE em 2017.
O projeto de Lei n°10.693/2003 que estabeleceu o dia da consciência negra no calendário escolar e a obrigatoriedade do ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira foi de iniciativa da deputada federal Mariângela Duarte (PT) e data de 09 de janeiro de 2003, porém o dia da consciência negra só foi de fato oficializado a partir da lei n° 12.519/2011 sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff e publicada no “Diário Oficial da União” apesar de, não mais instituir nesse caso a data de forma obrigatória como feriado.
O dia da consciência negra é comemorado em mais de 1.000 cidades brasileiras e é tido como ponto facultativo aos municípios na adesão ao feriado.Em alguns estados como Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo a data é feriado em todos os municípios e, em alguns municípios dos estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná e Santa Catarina a data é feriado apenas em alguns dos municípios.
Marcas do racismo
Os primeiros negros que chegaram ao Brasil foram capturados das terras que viviam no Continente Africano e trazidos de forma forçada como escravos nas embarcações conhecidas como “navios negreiros” onde eles passavam por todo tipo de maus tratos e condições subumanas, sendo vítimas muitas vezes do frio, fome e expostos à doenças.Os que conseguiam chegar ao Brasil eram separados entre si e já iam sendo distribuídos para servir de mão-de-obra aos senhores brancos nos engenhos e plantações de cana-de-açúcar, algodão e tabaco sob pena de sofrerem castigos violentos, sendo considerados como propriedade do senhor e não como pessoas.
Com a assinatura da Lei Áurea, a principal das leis abolicionistas, sancionada em 13 de maio de 1888 pela Princesa Isabel e que em 2018 completa 130 anos, não houve de fato uma mudança de pensamento da sociedade brasileira na promoção da igualdade de direitos onde o racismo ainda é bastante presente, como afirma o professor e antropólogo Luciano Borges: ”Quando falamos em racismo não é somente a cor da pele . O racismo seria a ideia de que algum grupo é superior ao outro e isso em diversos sentidos como na religião, a questão das práticas sexuais, das organizações de parentesco. Porém a própria ideia de raça pura não existe e é uma ideia desumana, se ao longo do tempo os grupos foram se diferenciando, o tronco porém é e sempre foi único.“ Conceitua o professor.
O cenário de discriminação e o preconceito contra a pessoa negra não é diferente no setor de trabalho. Segundo pesquisa desenvolvida pela Consultoria Etnus e divulgada em um Festival de Inovação WHOW! de São Paulo no ano de 2017, cerca de 67% das 200 pessoas ouvidas acreditam não terem sido contratadas para uma vaga de emprego por serem negras e seis a cada dez entrevistados foram vítimas de racismo. Também de acordo com dados do IBGE os trabalhadores negros recebem R$ 1,2 a menos que os trabalhadores brancos em média, considerando o 4° semestre de 2017.
Diante dessas situações, o dia da Consciência negra e do discurso sobre ela é de real importância na luta pela dignidade e pelo respeito, como declara o professor Luciano Borges: ”Falar de consciência negra ainda é e será necessário enquanto não houver a extinção das práticas racistas e da injustiça , temos que reafirmar sempre a posição da consciência e a posição, sobretudo no Brasil, da matriz africana como constitutiva e de importância no nosso panteão cultural’, assegura o professor.
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