Faculdade Maurício de Nassau UNINASSAU | Ser Educacional
04 Novembro
João Pessoa
Óleo na costa nordestina e seus impactos no ecossistema
Autor: Andrei Guedes

Desde o dia 30 de Agosto o Nordeste tem sido atingido pelo maior desastre ambiental das Últimas décadas, o derramamento de óleo derivado de petróleo na costa de todos os estados da região. Segundo o IBAMA, 200 pontos ao longo da costa dos nove Estados foram atingidas. Enquanto voluntários se desdobram para salvar a vida de animais oleados e fazer a limpeza de praias, rios e manguezais, a origem exata da onda de poluentes ainda é desconhecida. As consequências, contudo, já foram observadas no início de Setembro quando tartarugas começaram a aparecer mortas e cobertas de óleo na costa nordestina. Por se tratar de petróleo cru a degradação desse composto no ambiente ocorre de forma muito lenta, podendo demorar décadas para ser completamente eliminado, intensificando as consequências ambientais, sociais e culturais nas áreas atingidas. 

            Nem todos os animais mortos são encontrados ao longo das praias, estima-se que para cada animal morto que chega a costa (incluindo os que não são contabilizados por monitoramentos) outros 10 animais morreram em alto mar, que servirão de alimento para outros animais. O mais triste desse processo é que as moléculas tóxicas permanecem na cadeia alimentar sendo transferidas da base ao predador de topo, aumentando a concentração de agentes tóxicos a cada estágio. O nome desse processo se chama magnificação trófica ou bioacumulação e afeta todo o ecossistema  incluindo a população humana que, serão os consumidores finais de animais marinhos contaminados. Além disso, mesmo que visualmente as mancham de petróleo cru não existam mais, o ambiente permanece contaminado. Em humanos o contato direto com o óleo e seus gases pode causar problemas a curto prazo como dificuldade de respiração, dor de cabeça, pneumonite, náusea e confusão mental ou a longo prazo como dano aos pulmões, fígado, rins e sistema nervoso, imunossupressão e câncer.  

            Além dos impactos na biodiversidade costeira, os impactos sociais também são sentidos rapidamente. Em situações como essa, há uma indicação de suspensão imediata da pesca nas áreas atingidas e diante disso milhares de famílias ficam com seus recursos de subsistência limitados seja para consumo ou comercio de peixes e outros insumos costeiros. Mesmo diante das recomendações e alertas para que não haja consumo de animais decorrentes das áreas atingidas, é ilusório imaginar que isso não irá ocorrer, peixes, moluscos e crustáceos contaminados serão comercializados e consumidos pela população. Parte dos empregos fixos e temporários gerados no litoral nordestino são decorrentes do turismo nas praias da região e esta fonte de renda encontra-se ameaçada, motivo pelo qual alguns estados estão moderando os holofotes sobe a contaminação em áreas de turismo elevado.

            Assim como em outras tragédias ambientais ocorridas recentemente no Brasil, a atuação conjunta de profissionais de diversas áreas é fundamental para mitigar os efeitos ambientais e sociais decorrentes. Médicas e médicos veterinários, biólogas (os), profissionais de saúde humana, químicas (os), ecólogas (os), oceanógrafas (os), residentes das áreas atingidas, ONGs e departamentos governamentais estão atuando para reduzir ao máximo a quantidade de petróleo cru no litoral nordestino, bem como mitigando os impactos decorrentes da tragédia.
            Atenção: Evite contato com o óleo sem os EPI’s adequados, evite contato com animais oleados e não os devolva para o mar. Ao encontrar manchas ou animais ligue imediatamente para o IBAMA.

 

Por: Emmanuel Messias – biólogo e docente do curso de medicina veterinária da Uninassau JoãoPessoa.

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